21.2.14

hoje saí [ao mundo]




os dias por cá, são calmos e solarengos. temperaturas relativamente boas. sem nuvens no céu.

hoje não foi diferente.

o relógio da farmácia marca 15º. o laranja fluorescente das letras rolantes informam-nos também da data e hora!

lá fora, a piscina, não tem ninguém. apesar da sua calma e tranquilidade, transmitidas pelo azul turquesa, tão cativante, da água quase parada.

o jardim, primorosamente arranjado, não mostra sinais de vida humana! porque os pássaros, esses, já há muito que ali fizeram as suas casas.

para lá do muro do jardim, o parque das crianças, esta cheio como sempre! pais e crianças passam aqui as suas tardes... ouvem-se os risos, vozes e gritos dos mais pequenos, em decibéis impossiveis de reproduzir, por qualquer membro da espécie adulta.

mas, como já vos disse, hoje saí ao mundo!

caminho pela rua, devagar... com os phones nos ouvidos.

pendurado pelo braço, abano arritmicamente o carrinho das compras.

cruzei-me com duas senhoras, envolvidas nos seus burcas: só se vê as suas caras e pouco das suas expressões. empurravam carrinhos de bebés. conversavam afavelmente no seu idioma, ao mesmo tempo que caminhavam sobre a passadeira.

a imigração ilegal que está a chegar às costas de ceuta, nunca teve tanta afluência como agora” – oiço no rádio – “uma família síria de 7 pessoas, conseguiu entrar no país com passaportes ilegais” – continuam – “o numero de pessoas ilegais aumentou exageradamente! morrem mais 15 africanos vindos da áfrica subsariana. os cidadãos de ceuta manifestam-se: no mas muertos!; – pedem também para não se dispararem mais balas de borracha contra os emigrantes”; o alcade de melilla faz comentários infortúnios: “mas que quieren? que ponga azafatas para recibirlos?” ... mais tarde, ao saber do impacto que a sua afirmação teve pelos meios de comunicação, muda a sua statement: vale! si no quieren azafatas, digo antes azafatos! – perante esta situação, não me parece que valha a pena fazer mais comentários a respeito!

penso em como há tão pouco tempo, tinha lido e visto este assunto nos jornais e televisão. as condutas das forças governamentais, “politicamente corretas?” mas “humanamente incorretas,” estão a ser postas a juízo, agora, mais que nunca. os mortos aumentam ainda mais! os barcos cheios de pessoas ilegais, em estados físicos deploráveis, aumentam! muitas, são as pessoas que caminham meses e até anos, sem condições de dinheiro, comida e legalidade, para chegarem até aqui... conduzidos pelo sonho de liberdade!... número este, que está a aumentar, exageradamente!

houve até, uma lei, proposta no principio do ano, para proibir o atendimento das pessoas que se apresentassem nos serviços de saúde, sem papeis legais. os médicos saíram há rua! manifestaram-se! disseram que: ou atendiam todas as pessoas, ou não atendiam ninguém! – depois de longos protestos, a lei foi aprovada!
 
a primeira vez que me apercebi, em 1ª mão, da dimensão da chamada “problemática” da imigração ilegal, tinha 18 anos. vivia em terras escocesas. digo em 1ª mão, porque apesar de ter conhecimento destas situações; no país onde cresci, esta “problemática” não é lá grande “problemática”!... a não ser por aqueles "quilinhos" de droga, que de tanto em tanto tempo, aparecem nas praias, vindos, eventualmente de marrocos!

bem! os ingleses, no que diz respeito à imigração ilegal, não são tão abertos como os espanhóis! não discutiam o assunto no rádio, nem na televisão! ... nem o comentavam entre si! aliás, eu só me apercebi desta situação, porque todos os fins-de-semana comprava o jornal! neste, lá para a ultima página, numa coluna pequenina e com umas letras minúsculas, costumava encontrar escrito, o número de pessoas ilegais que tinham morrido, nessa semana, nos comboios, ao tentarem entrar no reino unido! numero este, que me deixava sempre aturdida e indignada!... mas, fora daquela pequena coluna e letras minúsculas, mais ninguém parecia aperceber-se da situação... como se de um mundo secreto, se tratasse! – afinal de contas, os mortos e vitimas da imigração ilegal, não deixam de ser uma situação altamente desumana e controversa!

[e também não podemos esquecer, que gibraltar, é inglês!]


continuo o meu trajeto.

no supermercado cruzo-me momentaneamente, com umas pessoas da américa do sul. não consigo identificar o seu país de origem!

no rádio, o tema agora, é a venezuela. “as manifestações da população aumentam. milhares saem as ruas para se manifestarem, liderados pelos estudantes! prendem o líder da oposição, alegando que fomenta e alimenta as manifestações! o obama, como presidente dos estados unidos, pede para tentarem chegar a consensos e situações de paz. os líderes venezuelanos, sentem-se altamente ofendidos e basicamente respondem-lhe que “nao tem de por o nariz onde não é chamado”; os policias disparam contra os manifestantes. uma das balas foi direta a cabeça da rainha da beleza venezuelana. morre aos 22 anos” – continuam – “mas se tínhamos falado com ela à tão pouco tempo!” – lamentam-se da situação e continuam – “mais de 100 feridos e pelo menos 5 mortos. as forças do governo usam a força e disparam [balas verdadeiras] contra os manifestantes. prendem todas aquelas pessoas, que disserem alguma coisa que consideram ir contra os seus ideais! dando-lhes inclusive, penas muito pesadas, se vão presos... senão os matarem, até!” – tem piada! – dizem ironicamente no rádio – “um governo que se dizia ser do povo e estar do lado do povo! – es ahora el “pueblo” contra el pueblo!” – esta frase fica-me a ecoar na cabeça: é o “povo”, contra o povo! é o “povo”, contra o povo!

vou fazendo as minhas compras, calmamente!

penso em como a situação daquele país, se tem mantido sob um regime opressor e totalitário já há tantos, tantos anos! mudam e aprovam leis, como e quando lhes apetece, com a finalidade de que estes líderes se perpetuem no poder e se mantenham “intocáveis” ... eleições democráticas não existem! e a violência armada é “oferecida” por onde quer que se vá! ... justificam-se por detrás de estatísticas “risórias” [tanto quanto à sua credibilidade, como à sua importância e utilização!], e manter um dialogo com estas pessoas, tem-se mostrado tarefa impossível ... uma palavra em falso... e zazzzzz ... é a morte do artista!


compras feitas!

o sol brilha com uma tonalidade primaveril!

arrasto o carrinho, agora cheio! pela rua acima. as pessoas, caminham relativamente felizes.

no parque, as crianças brincam, riem e divertem-se, sabem que amanha voltam para o seu parque preferido!

chego a casa! e ainda com os phones nos ouvidos, vou arrumando as compras. o rádio continua ligado! e as noticias agora, voltam-se para a ucrânia. falam da matança da população em kiev... de que foi fruto da repressão governamental. 35 mortos [que se conheça!] ... a cidade, está em plena guerra! há snippers por todos os lados! ponderam se será o fim da “paz fria”! a esquiadora ucraniana, abandona os jogos olímpicos, para regressar a casa com a sua família!

a história destes países é longa e complicada! e envolve sempre grandes atrocidades humanitárias e violações aos direitos humanos!


baixo o volume! ainda assim, oiço ao fundo e muito vagamente, algo sobre o julgamento da infanta e do envolvimento da casa real em negócios corruptos; oiço algo sobre a privatização da água, e em como a população se esta a manifestar contra esta medida; oiço que a catalunha quer passar a ter o seu próprio sistema de pagamento de impostos, e que este sirva só para a catalunha; e até oiço que a eta assume que deixou a força armada [ou talvez seja um desarme parcial?]...

tudo devidamente arrumado! desligo o rádio.

olho lá para fora!

vejo as crianças! continuam alegres, em grandes correrias, jogos e traquinices!

a piscina, sempre tão tranquila, “apetitosa” e vazia de pessoas!

o jardim, resplandecente e sem ninguém! tão primorosamente arranjado!

hoje, deixei o mundo entrar [um bocadinho]!

hoje! saí ao mundo!


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